domingo, 24 de maio de 2009

Gharük e o rito de passagem para a fase adulta.

Numa noite, na floresta escura e densa de carvalho, há uma fogueira iluminando o local, mostrando um homem adulto, falando com alguns jovens.

-De acordo com o rito Goochan, Eu, guardião dos costumes antigos e das lendas, darei início ao momento de que vocês tantos esperavam! O teste de fogo para saber se vocês estão aptos ou não para seguir a vida de Guerreiros da Lua.

Todos os jovens olham com espanto, já passaram quatro anos longe de casa, comendo mal, sobrevivendo à selvageria da natureza. Criando laços de amizades e de atrito com o grupo, pois os Goochan é uma raça ligada aos seus antepassados e a natureza. Mas Gharük não está assim, seu olhar é mais de preocupação do que de espanto.

-Meus pupilos! Como prova de sua bravura eu ordeno que busquem a cabeça de um lagarto-tigre!

Os jovens olham mais apavorados... Será a primeira vez que eles irão a uma caçada de um predador rápido e violento, Gharük olha concentrado, ele quer essa batalha. Ele a deseja com tanto fervor quanto o amor dele pelos seus pais, sua terra e sua vida!

-Vocês têm três dias, eu torço para que sejam prósperos!

Os pupilos pegam suas armas, e bagagens e se dirigem a escuridão no meio das folhas, passam algumas horas caminhando, ao som dos insetos e do ar soprando as folhas das copas das árvores quando um jovens fala.

-Espero que nenhum de vocês tenha quebrado a base de minha lança ou algo do tipo, hoje vamos nos formar adultos, guerreiros honrados e devemos agir como um grupo.

-Cale-se Alren, ninguém sabotou você, assim como ninguém daqui, sua falta de manutenção com os seus equipamentos podem comprometer todo o nosso rito, Já eu Odrich! Descendente de Lomk*, o herói milenar e dono do sangue mais puro de nosso grupo, jamais tratariam minhas armas com tanta vulgaridade!

*(Lomk é um guerreiro lendário, eu tenho um poema dele para publicar depois.)

-Não Odrich, eu Coldran, filho de Calder, Posso garantir que Alren nunca foi desleixado com a sua arma, pois ele a trata melhor que as ancas de uma mulher!

Todos os garotos começam a rir.
De repente um vulto em alta velocidade corta o riso dos jovens e cria milésimos de tensão.
Eles se alinham com suas lanças, martelos e espadas em forma circular. Eles não sabem o que era aquilo e da onde poderá atacar. Quando Gharük sai da formação e desaparece.

Todos os jovens olham apavorados, Seus batimentos cardíacos fazem o som de dez tambores de guerra, eles se dirigem aonde Gharük os deixou, lentamente sem deixar barulho. Quando um eles escutam um ganido de um animal e ruídos estranhos.
Eles se apressam, um irmão pode estar morto, Aproximando-se de uma árvore, Alren sente o cheiro de sangue, examina o chão, falando que tem sinais de uma luta, com uma rápida solução, acaba deduzindo e afirmando que aquele ali era o sangue de Gharük.
Coldran e Odrich se olham, junto com os outros seis jovens com um olhar de confusão, o que eles podem fazer agora para achar Gharük, ou o que sobrou dele?
Quando uma sombra se aproxima.
Todos os jovens fazem a formação para a batalha, quando eles vêem. É Gharük, com três Lebres tigradas mortas.
-Disso que estávamos com medo. Lebres.

Os jovens olham surpresos, Alren nunca errou com a suas deduções e seus rastreios antes.

-Podemos usar as lebres como isca para trazer a nossa presa! Mas sejamos rápidos dizem que os lagartos-tigres começam a caçar perto da alvorada!

Os jovens começam a se preparar para o combate.
Dois Goochan ficaram em cima de uma árvore, com arco e flecha. Uma trincheira com Quatro jovens, Odrich e Alren com as lanças ao lado dos cadáveres das lebres e mais longe, Gharük e Coldran esperam com machados. Mas, eles não esperavam que os Lagartos-Lince atacavam em bando. Deixando os jovens da trincheira encurralados.

-Nós somos dez, os lagartos são três. Temos chance! Afirma Coldran para Gharük com voz baixa. Faz o sinal para os arqueiros se preparem e sai em direção às bestas.

Gharük tenta segura-lo, mas não consegue. Gritando Não! Por impulso.

As feras escutam o som e se mechem bruscamente, os jovens das trincheiras saem dela para cercar os seus inimigos, mas é em vão. A força e a velocidade dos lagartos-tigres são maiores, e um dos seus companheiros é ferido, outro acaba sendo devorado por dois lagartos.

Odrich usa sua lança, numa tentativa de perfurar a carapaça do animal, acaba quebrando-a. O animal usa uma investida e o derruba no chão, parando em cima dele.
O jovem já está sem esperança com aquela fera de cento e sessenta quilos em cima dele com um olhar de “o jantar está servido” quando ele se lembra que tem uma adaga escondida na cintura. Ele usa apenas o tato, encarando a fera nos olhos, com o temor de ser morto com uma mordida. Pegando a sua adaga e estocando contra a mandíbula do animal.
Gharük dá um salto e com seu machado, decepa a cabeça de outro Tigre, O terceiro foge instintivamente.

-Conseguimos! Grita Odrich com emoção, chorando feito uma criança.
-É melhor sairmos daqui, antes que outros predadores venham por causa do cheiro. Afirma Alren com medo.

Os jovens decepam o lince morto por Odrich e enterram o companheiro morto e saem rapidamente do local.
Correndo pela floresta os rapazes percebem que os arbustos se movem, eles apressam. Atravessando uma área aberta da floresta eles vêem dezenas de Lagartos-Tigres atrás deles.

-Por *Chquinn! Como vamos matar todos eles? Eu sou novo demais para morrer! Grita Odrich correndo como se fugisse da morte a cavalo.
Após correrem em linha reta eles se deparam com uma cachoeira. Agora cabe a eles escolherem, ou morrem lutando, ou tentam fugir.

(Chquinn :Pronuncia-se Kuim: é o Deus supremo do Panteão Goochan, filho da terra e do cosmos.)

Gharük sem pensar duas vezes, se vira e dispara em direção as feras.
-Gharük só pode estar louco... Pensa Odrich, enquanto os seus companheiros vão para a luta.
Gharük, com um sorriso sádico em sua face, usa seu machado contra as feras com precisão e voracidade. Logo os outros chegam com a mesma sede de sangue...

Odrich Chega ao acampamento onde seu líder está descansando.
-Grande mestre e guardião, eu trouxe o que o senhor pediu!
O senhor olha a cabeça da fera e dá um sorriso.
-Sim, eu vejo... Mas e seus irmãos?
Odrich olha com um olhar penoso.
-Fomos seguidos por uma manada de Lagartos-Tigres, e eles ficaram para lutar.
O homem olha nos olhos de Odrich com um olhar insatisfeito.
Vamos esperar o tempo que falta.
Passou-se dois dias. Não houve nenhum sinal de vida desde que os jovens saíram em sua expedição, O homem começa a levantar seu equipamento quando ele escuta passos.

-Pela mãe Terra! Os Garotos voltaram!

Gharük, Coldran e Alren se aproximam totalmente feridos, trazendo diversas cabeças de Lagartos-Tigre uma variedade de couros e presas de outros animais. Carregando também os corpos de seus amigos feridos e mortos.
-Eu vim aqui, pois falaram que aqui seria a elite.
Eu vim até aqui! Por que me disseram que os melhores e mais honrados estavam aqui!
Mas a única coisa que eu vi foi descaso e desonra, sabotaram por quatro anos as minhas armas, me humilharam por que eu não tinha uma linhagem totalmente nobre e não era descendente de Lomk, nesses três dias eu vi que a minha geração, fala mais da honra de seus antepassados do que demonstrar sua própria honra! Estou errado? Odrich?
Eu deveria matá-lo e deixar virar comida dessas feras. Perdemos metade do grupo, tudo por que não decidistes lutar honrosamente... Esbraveja Gharük. Mostrando sua fúria.

-Mas como vocês chegaram até aqui? Diz o homem a Gharük.
-Eu e os demais estávamos na luta, Ficamos horas lutando, quando o sol abriu, os lagartos fugiram. Mas tínhamos um grande problema, estávamos feridos, com fome e em um local inadequado. Acabamos trilhando floresta adentro e deixamos os mais feridos descansando, estancamos os cortes deles com trapos de nossas roupas.
E nos separamos, Eu, Coldren e Doren saímos atrás de comida, enquanto Alren cuidava dos outros.
Caçamos Javalis, Doren foi ferido por uma cobra venenosa e faleceu.
Quando chegamos ao acampamento Alren estava ferido e os outros mortos.
-Alren? Quem os matou? Diz o homem com angústia em seu olhar.
- Quem os matou e quase me levou junto foi um Drahken... Diz Alren.
-Vamos fazer o sepultamento de nossos irmãos e sair dessa floresta. Os espíritos dos mortos estão nos rodeando, mas antes fiquem um do lado do outro.

Os jovens se alinham.

-Vocês passaram pela prova. São homens agora, uns mais que os outros. Porém irmãos e apartir dessa data, todos vocês devem honrar uns aos outros.
O homem arranca um dente de um Lagarto-Tigre e faz com um corte, a marca da aprovação nos jovens.

-Agora vamos Sepultar seus irmãos, que com a sua bravura, foram importantes para este acontecimento.

Os jovens fazem o sepultamento de seus irmãos e levantam acampamento.
Agora eles vão para casa. Uns honrados, outros humilhados. Mas todos com a certeza de que são guerreiros e que não devem baixar sua guarda nunca, pois seja na mata, ou nas planícies... Os Drahken estão á espera deles.

6 comentários:

Thiagão Ripper disse...

Bravo,bravo,bravo,bravíssimo Rudy!!! História fascinante,de uma riqueza detalhística incrível e que nos prende à ela de forma absurda!!!Espero em breve ler mais histórias à respeito dos Goochan e dos outros povos de Highwind...Grande abraço!!!

Anônimo disse...

Rudy, tens que escrever um livro definitivamente!!!

Fabiano - Barricada Vermelha disse...

Meu amigo Rudy, é com certeza, um prêmio divino, conseguir transferir os devaneios que temos nas noites de inverno, abaixo dos cobertores e escutando os ventos, para o papel. Tua Estória, além de contemplar um imaginário nórdico como um todo, místico e mítico, reflete essa tua personalidade marcante, de ora enfrentar os homens e seus vícios, ora fugir da realidade e rumar para aquela terrinha das maravilhas da antiguidade. Essa sacação dos lagartos-tigre, dos líderes guerreiros, da bravura dos jovens e da morte como a contemplação final da luta, me instiga a pensar que a leitura só pode ser usada de fato, no que Freire tange ser o "pensar certo", quando lemos, entendemos e transferimos ao quotidiano. Rio Grande não é a Europa, mas não nos é negado o direito ao sonho. Gostaria também de te comentar que na minha adolescência, escutei muito, como viciado, rock progressivo (Yes, Genesis, Pink Floyd, ELP e outros), o que me marcou por um tempo, com essa cultura entre o galês e o nórdico de fato. Esses mitos, cheios de histórias e contos, são fortemente marcados pela honra, pela nobreza do caráter e pelo avançar em circunstâncias sempre adversas. Se me permites, acho que isso, inconscientemente, tem muito a ver com tua trajetória de vida. Pela parte literária, peço desculpas por n~çao ler com mais clama para comentar, o que fico te devendo, mas é o preço de estar sem internet domiciliar, mas por outro lado, gostaria de elogiar a sintese de idéias e a livre escrita, que dá como um todo, um ritmo que não enche, mas prende a atenção. Acho que deves começar a compor mais sagas, juntando-as e compilando-as em um único album. É uma sugestão de um amigo. Um abraço farterno. Fabiano.

Black Sheep disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
samuka disse...

hahahah mto fera

Danieli Amorim disse...

massa ^^

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